7.20.2008
O TEMPO DE RITA WAINER:UMA MOIRA DE SI MESMA
RICARDO OLIVEROS
É um privilégio poder acompanhar a evolução de uma estilista tão de perto, assim. Sim, eu sou amigo da Rita, adoro esta pessoa, então antes de mais nada, sou megahipersuspeito para falar do desfile-instalação-performance da Theodora. Assim, como as críticas de cinema que contam o final do filme e avisam nas primeiras linhas, cabe ao leitor decidir se quer ir ao final ou não.
Rita não começou com moda, mas como artista plástica. Teve uma época que ela mandava uns emails com frases ótimas, que depois viraram camisetas e ela foi convidada a desfilar. Meio que ela não remou contra a maré e foi navegando até entrar em crise e não saber se queria continuar com esta história de moda.
A Theodora foi meio que dando certo e conseguiu uma certa clientela fiel. Ela mais do que ninguém sabe que hype não dá grana. Fechou a loja, procurou outras formas de vender seu produto, incluso seu blog. No inverno passado, Rita entrou noutra fase, e cansou de fazer roupas de menina. Não foi um desfile fácil, chamava de “coleção intermediária”. É um turning point que pode acontecer com qualquer um.
A partir daí, nas próximas etapas é que vai se delineando mais claramente por qual caminho vai seguir. Hoje, a partir da mitologia das Moiras, seres que segundo a mitologia grega teciam o fio da vida dos humanos. No centro do cenário, três modelos usavam maiôs ultrabordados e com vários fios de lã faziam o papel mitológico. Em volta delas, uma mandala feita de tecidos e espelhos partidos. Tudo ia se construindo ou se descontruindo entorno disso. Relógios-despertadores, modelos com balões, numa alusão muito particular daquele padre maluco, e muitas cadeiras amontoadas, desqualificando as filas A, B, C…
Na verdade, o público poderia entrar, circular por entre tudo isso, e ir embora. Mas ficaram todos ali, como se fosse de fato uma apresentação com começo, meio e fim. E os amigos-parceiros entenderam rapidamente que seria assim e resolveram dar esta caráter. O que era instalação, virou performance, virou desfile. Tudo ok.
Acabei dando uma entrevista para o novo site da Lilian Pacce (depois conto mais) falando desta tipo de apresentação na moda. Resumindo, disse que quando tem a ver, não vejo problemas. Se não for poeira nos olhos, tá tudo certo.
Quando comecei a olhar os 10 looks da apresentação, fiquei pensando como a Rita amadureceu e o tempo que ela levou para tecer seus próprios fios. Não é fácil ser Moira de si mesmo. Se no Inverno a preocupação era conciliar seus novos desejos com uma coleção normal, com 30 looks, aqui era mais conciso. Ela avançou em modelagem, no cuidado com cada peça e depois ela pode desenvolver (ou não) uma linha mais comercial, a partir daqueles 10 modelos. Não pensem que eram 10 looks soltos, eles têm uma coesão forte entre si.Fui abraçar a Rita no final com toda a sinceridade do mundo, dei meus parabéns. Achei realmente lindo. Antes encontrei a Thais Losso que foi dar uma força para a vizinha de atelier. Ela avisou que os meninos do Estudio Xingu, que desenvolveram os acessórios do desfile da Theodora chegam amanhã, para mais uma ação entre amigos. Deu tempo antes do desfile, dar um abraço no Frank Dezeuzis que fez o cenário, no Theo Carias que fez o make. Olhe que só 4 dias antes, a equipe soube que iria ter um desfile com o mesmo casting, então, não puderam executar toda a beleza pensada para a apresentação. Depois fui jantar com uma trupe ótima, que incluia a Leticia Toniazzo, a stylist do desfile, e ela me contou mais um pouco sobre o processo.
O tempo pode separar muita gente, ao mesmo tempo, que pode servir para juntar aquelas pessoas que são essenciais para nossa vida. Foi com este pensamento que saí de lá. E pensando que o tempo é um dos grandes luxos deste novo milênio, e que Rita Wainer usou muito bem esta preciosidade.
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